Saiba mais sobre uma das principais lesões da região escapular
Para compreender a dinâmica da luxação acromioclavicular é preciso, primeiramente, entender as estruturas que compõem essa região: a clavícula e o acrômio. A clavícula é um osso irregular, em formato de “S”, que promove a articulação dos braços com o esqueleto axial, mais especificamente com o ombro. O acrômio, por sua vez, é uma proeminência óssea da escápula, um osso localizado na região dorsal dos ombros e recoberto pelo músculo trapézio.
Assim, torna-se mais fácil de compreender que a articulação acromioclavicular é justamente a região em que o acrômio se conecta com a região lateral da clavícula, fornecendo mais estabilidade aos movimentos dos membros superiores e maior mobilidade do ombro para atividades diárias e esportivas.
O que é a luxação acromioclavicular?
Luxação é o nome dado às lesões caracterizadas pela perda de congruência articular entre dois ossos, ou seja, quando essas duas estruturas se desarticulam entre si perdendo a mobilidade do membro.
Nesse sentido, tem-se que a luxação acromioclavicular é a perda de contato entre o acrômio e a clavícula devido a falhas das estruturas responsáveis por essa estabilização, como a cápsula articular e os ligamentos que estabilizam o plano vertical. Com isso, o ombro é desarticulado do restante do tronco, gerando um quadro de muita dor e instabilidade.
Como ocorre a luxação acromioclavicular?
O principal mecanismo de trauma relacionado à luxação acromioclavicular é o “trauma direto”, que é quando a pessoa cai com o braço “fechado” sobre o tronco, causando um impacto direto no ombro. Mas essa lesão também pode ocorrer pelo trauma indireto, que acontece quando o paciente cai com o braço estendido e a mão espalmada ou quando cai com o apoio do cotovelo.
Assim, pode-se afirmar que a maior parte dos casos de luxação acromioclavicular ocorrem durante práticas esportivas diversas, como lutas marciais, skate, ciclismo, patins e até mesmo no futebol. Qualquer atividade física que predisponha o indivíduo a cair com mais facilidade é um risco para a luxação do ombro e acromioclavicular.
Tipos de luxação acromioclavicular
A classificação mais usada para a luxação acromioclavicular é a de Rockwood, que divide a lesão em seis tipos conforme a integridade dos ligamentos estabilizadores. Essa categorização da lesão é importante para definir o melhor método de tratamento e o prognóstico.
Assim, a classificação de Rockwood para a luxação acromioclavicular é:
- Tipo I: os ligamentos do ombro estão íntegros, mas estirados, e não há deformidades visíveis pela radiografia;
- Tipo II: há ruptura nos ligamentos acromioclaviculares causando instabilidade do ombro no plano horizontal;
- Tipo III: há ruptura nos ligamentos acromioclaviculares e nos ligamentos coracoclaviculares, gerando instabilidade nos planos horizontal e vertical;
- Tipo IV: há um deslocamento posterior da clavícula em direção ao músculo trapézio, podendo haver tração exagerada do plexo braquial e lesões neuronais;
- Tipo V: ocorre uma ruptura da fáscia, tecido que recobre os músculos deltoide e trapézio, gerando uma queda do ombro;
- Tipo VI: lesão associada a traumas de grande energia em que a clavícula é deslocada para baixo, havendo também fraturas de costela e da clavícula.
Sintomas
Os sintomas da luxação acromioclavicular surgem imediatamente após o trauma causador da lesão, incluindo:
- Dor na região lateral da clavícula;
- Inchaço;
- Dificuldade de movimentar o braço e elevar o ombro;
- Deslocamento visível do ombro;
- Desnivelamento do ombro (sinal do cabide).
Diagnóstico
Além dos indícios clínicos e da história a favor da luxação acromioclavicular, o diagnóstico desse tipo de lesão é feito com a radiografia do ombro, que pode ser realizada em diferentes incidências, incluindo inclinações e angulações específicas. É importante garantir que o paciente esteja bem-posicionado no momento da radiografia, bem como é válido radiografar os dois ombros para que se possa fazer uma análise comparativa entre os dois lados.
Tratamento da luxação acromioclavicular
Nos casos de luxação acromioclavicular dos tipos I ou II, pode-se abordar a lesão com um tratamento conservador, que inclui medidas de analgesia, aplicação de gelo no local e repouso do braço até a resolução dos sintomas, que pode durar de 7 a 21 dias, preferencialmente com uso de tipoia.
Após essa etapa do tratamento, é importante realizar fisioterapia para se recuperar completamente da luxação acromioclavicular, bem como evitar esportes de contato por cerca de 3 meses. As recomendações médicas devem ser seguidas adequadamente durante a recuperação para evitar as principais complicações do tratamento conservador, que incluem a artrose precoce e a permanência da instabilidade do ombro.
Cirurgia para o tratamento da luxação acromioclavicular
Nas luxações mais complicadas há indicação para o tratamento com cirurgia. O tratamento da luxação acromioclavicular do tipo III, no entanto, é um pouco controverso, visto que muitos médicos preferem o método conservador ao cirúrgico. Ainda assim, pacientes com esse tipo de lesão, principalmente aqueles que dependem muito da carga braçal para suas atividades laborais, podem se beneficiar com o tratamento cirúrgico, que permite uma recuperação mais rápida.
Já para a luxação acromioclavicular dos tipos IV, V e VI a indicação cirúrgica é absoluta, mas cada caso deve ser avaliado individualmente pelo ortopedista especialista em ombro para que ele decida a melhor via de acesso (aberta ou artroscópica), se há necessidade de ressecar as extremidades (indicado em lesões cartilaginosas e casos crônicos), quais são as reconstruções ligamentares necessárias e também qual o tipo de fixação a ser utilizado.
Recuperação pós-operatória do tratamento cirúrgico da luxação acromioclavicular
A recuperação da cirurgia para tratamento da luxação acromioclavicular inclui imobilização do ombro em tipoia e repouso do membro por 4 a 6 semanas, com acompanhamento de fisioterapeuta ao longo de todo o período de recuperação. Além disso, exercícios pesados e esportes de contato não são recomendados nos primeiros seis meses após a cirurgia.
Seguir as recomendações médicas no período pós-operatório é essencial para evitar as complicações mais comuns desse tipo de procedimento, que incluem a quebra ou a migração do implante utilizado, subluxação acromioclavicular e recorrência da lesão com sintomas residuais.
Qual médico procurar para tratar uma luxação acromioclavicular?
O médico especializado para tratar a luxação acromioclavicular é o ortopedista cirurgião de ombro, que tem a formação médica e a especialização necessárias para identificar o tipo de lesão, conceder diagnóstico e indicar o melhor tratamento para cada paciente.